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3
set

Saúde mental dos Advogados: confira entrevista com o psiquiatra Hélio Fadel

Na semana passada, me deparei com um artigo publicado no JusBrasil e achei o tema muito pertinente. “Precisamos conversar sobre a saúde mental dos advogados”, escrito pelo advogado Pedro Custódio, trouxe dados importantes que merecem atenção. 

“A Revista da CAASP [Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo] trouxe a notícia de que seria desenvolvido pelo órgão um trabalho minucioso sobre a saúde mental da advocacia, uma das classes que mais sofre com doenças decorrentes de stress e outros transtornos psicológicos, segundo ressaltou o redator”, divulgou o autor. 

Outro cenário alarmante é o de que advogados do Brasil inteiro estavam compartilhando nos stories do Instagram fotos dos remédios que haviam tomado naquele dia, antes ou durante o trabalho.

Diante da matéria, propus à equipe abordar esse tema aqui no escritório. A fim de ampliar a divulgação, também trouxemos este assunto para o nosso blog. Convidamos o psiquiatra Dr.Hélio Fadel para esclarecer algumas questões, contribuindo com seu conhecimento e ampla experiência profissional.

Helio Fádel é coordenador científico da Associação Brasileira de Psiquiatria na APAL (Associação Psiquiátrica da América Latina), autor do livro Coaching Esportivo – 100 perguntas para aprimorar autoconhecimento, inteligência emocional e performance e coautor do livro Psiquiatria do Esporte – Estratégias para qualidade de vida e desempenho máximo.

Confira:

Como a frustração com a carreira pode levar a problemas psicológicos?

A decisão por um ramo de trabalho envolve incontáveis elementos. E, seja qual for a área escolhida e os caminhos da vida que nos colocou em determinado ofício, é normal para o ser humano desenvolver expectativas sobre ele. Quando essa expectativa não acontece, a pessoa se vê frustrada e até sem perspectivas. 

Desmotivação, falta de pragmatismo, perda da vontade, queda da energia e pouca prospecção futura são alguns sinais e sintomas de sofrimento psicológico daqueles que estão insatisfeitos no trabalho. Mais importante do que buscar um diagnóstico (depressão, estresse agudo, transtorno de adaptação…) é entender o contexto de vida da pessoa e enxergá-la como um todo, para que haja maior assertividade no auxílio de suas questões.

A autocobrança interfere na vida pessoal e profissional?

Apesar do perfil obsessivo (organização, comprometimento, sistematização, rigidez quanto à normas, cobrança por resultados…) ser positivo quando pensamos em crescimento profissional, esse comportamento de cobrança excessiva pode acabar prejudicando muito o indivíduo.

Pessoas que se cobram demasiadamente tendem a se frustrar mais, além de acharem que “nunca está bom”. Isso acaba se tornando uma bola de neve, pois pode potencializar a ansiedade, gerar sentimentos de menos valia (sintoma de depressão) e prejudicar até aspectos fisiológicos como o sono, apetite e energia diária. Consequentemente, haverá impacto negativo em todos os âmbitos da vida, seja profissional ou pessoal. Ou seja, a funcionalidade da pessoa poderá ficar comprometida.

Quais são os efeitos da ansiedade para a carreira?

A ansiedade é uma reação fisiológica do organismo. Dentre várias situações, ela pode surgir a partir do pensamento automático interpretado por ideação antecipatória – que atua como gatilho para deflagrar uma série de reações em cadeia em todo o corpo. 

O problema é quando essa ansiedade deixa de ser fisiológica e começa a se tornar patológica na vida de alguém, levando a prejuízos significativos em diversas esferas da vida. Taquicardia, sudorese excessiva, parestesia (sensação de formigamento), dispneia (falta de ar) e rigidez muscular são alguns sintomas da ansiedade. 

Além disso, existem várias formas de ansiedade, o que significa que as suas manifestações devem ser individualizadas e contextualizadas no universo de cada um. Seja qual for o tipo de ansiedade, se não for devidamente abordada, poderá comprometer o funcionamento parcial ou total da pessoa – e isso certamente vai impactar sua vida laboral nos mais diversos sentidos.

 Quando pensamos na advocacia,que é uma área que lida com clientes potencialmente angustiados/ansiosos, além de processos, burocracias, tempos de espera para decisões, o profissional pode acabar recebendo toda essa energia – e isso pode acumular com o tempo, sendo essencial para o advogado cuidar da sua saúde mental constantemente.

O que o advogado deveria fazer para evitar o comprometimento da sua saúde mental ?

Adotar medidas comportamentais e hábitos positivos que busquem quebrar a rotina intensa e, por vezes, estressante da advocacia. Ter pausas no trabalho é eficaz, dedicando-se a exercícios de respiração e relaxamento (p. ex., meditação), alimentar-se com regularidade, ter uma boa higiene do sono (ambiente totalmente escuro, pouco ruidoso, longe de tablets ou smartphones, desligar a TV) e praticar atividades físicas são ótimas recomendações. E, claro, jamais deixar de buscar assistência do profissional de saúde mental (psicólogo e/ou psiquiatra), caso estiver com algum sofrimento significativo.

Quais são os tratamentos para quem já está diagnosticado com depressão, ansiedade, etc?

Inicialmente, devemos reforçar algumas medidas comportamentais, como as que citei anteriormente. A psicoterapia (terapia com psicólogo) é uma excelente abordagem, pois irá auxiliar a pessoa a entender os gatilhos de sua ansiedade, possíveis fatores estressores (e como eliminá-los/lidar melhor com eles) e a adotar técnicas para eventuais momentos de crise. Também é um ótimo tratamento para quadros depressivos, pois ajuda a pessoa a elaborar melhor suas questões, auxilia no fortalecimento do Ego e na reformulação de perspectivas. Por fim, temos o recurso dos psicofármacos, principalmente os antidepressivos. Ao contrário do que muitos pensam (p. ex., “todos remédios viciam”, “fazem mal”, “vão me dopar”, etc.) são um ótimo recurso para depressão e ansiedade. Mas que devem ser administrados sob indicação e supervisão psiquiátrica.

Na sua opinião, por que doenças decorrentes de stress e outros transtornos psicológicos estão afetando os advogados?

Na verdade, sempre afetaram, porém não tanto como nos dias atuais. Venho recebendo muitos advogados no consultório, o que mostra o impacto do trabalho na saúde mental dessa população. O fato é que as pessoas vivem aceleradas, “pressionadas” e com obrigações cada vez maiores (sejam pelas questões inerentes do dia a dia ou aquelas impostas por elas mesmas inconscientemente). 

Além disso, a tolerância das pessoas parece estar cada vez menor – o que leva a conflitos interpessoais, profissionais, etc. E aqui entra a figura do advogado – que está a todo momento lidando com o ser humano (geralmente, em momentos de angústia, sofrimento ou conflito). Toda a rotina do advogado acaba sendo um ambiente propício/fator estressor para o desencadeamento de transtornos mentais. Seja estresse agudo, burnout, depressão, ansiedade, insônia, transtorno alimentar, etc. 

São condições que não são “frescura” e merecem abordagem e tratamento especializado em saúde mental.

Procure ajuda!

Se você se identifica com alguma situação mencionada, procure ajuda com profissionais especializados. Compartilhe este texto com advogados ou profissionais que deveriam conhecer essas informações.

Acompanhe no Instagram:

Dr. Helio Fádel: @helio.fadel

Escritório Caio Tirapani Advogados Associados: @caiotirapaniadvogados

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