Na semana passada, me deparei com um artigo publicado no JusBrasil e achei o tema muito pertinente. “Precisamos conversar sobre a saúde mental dos advogados”, escrito pelo advogado Pedro Custódio, trouxe dados importantes que merecem atenção.
“A Revista da CAASP [Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo] trouxe a notícia de que seria desenvolvido pelo órgão um trabalho minucioso sobre a saúde mental da advocacia, uma das classes que mais sofre com doenças decorrentes de stress e outros transtornos psicológicos, segundo ressaltou o redator”, divulgou o autor.
Outro cenário alarmante é o de que advogados do Brasil inteiro estavam compartilhando nos stories do Instagram fotos dos remédios que haviam tomado naquele dia, antes ou durante o trabalho.
Diante da matéria, propus à equipe abordar esse tema aqui no escritório. A fim de ampliar a divulgação, também trouxemos este assunto para o nosso blog. Convidamos o psiquiatra Dr.Hélio Fadel para esclarecer algumas questões, contribuindo com seu conhecimento e ampla experiência profissional.
Helio Fádel é coordenador científico da Associação Brasileira de Psiquiatria na APAL (Associação Psiquiátrica da América Latina), autor do livro Coaching Esportivo – 100 perguntas para aprimorar autoconhecimento, inteligência emocional e performance e coautor do livro Psiquiatria do Esporte – Estratégias para qualidade de vida e desempenho máximo.
Confira:
A decisão por um ramo de trabalho envolve incontáveis elementos. E, seja qual for a área escolhida e os caminhos da vida que nos colocou em determinado ofício, é normal para o ser humano desenvolver expectativas sobre ele. Quando essa expectativa não acontece, a pessoa se vê frustrada e até sem perspectivas.
Desmotivação, falta de pragmatismo, perda da vontade, queda da energia e pouca prospecção futura são alguns sinais e sintomas de sofrimento psicológico daqueles que estão insatisfeitos no trabalho. Mais importante do que buscar um diagnóstico (depressão, estresse agudo, transtorno de adaptação…) é entender o contexto de vida da pessoa e enxergá-la como um todo, para que haja maior assertividade no auxílio de suas questões.
Apesar do perfil obsessivo (organização, comprometimento, sistematização, rigidez quanto à normas, cobrança por resultados…) ser positivo quando pensamos em crescimento profissional, esse comportamento de cobrança excessiva pode acabar prejudicando muito o indivíduo.
Pessoas que se cobram demasiadamente tendem a se frustrar mais, além de acharem que “nunca está bom”. Isso acaba se tornando uma bola de neve, pois pode potencializar a ansiedade, gerar sentimentos de menos valia (sintoma de depressão) e prejudicar até aspectos fisiológicos como o sono, apetite e energia diária. Consequentemente, haverá impacto negativo em todos os âmbitos da vida, seja profissional ou pessoal. Ou seja, a funcionalidade da pessoa poderá ficar comprometida.
A ansiedade é uma reação fisiológica do organismo. Dentre várias situações, ela pode surgir a partir do pensamento automático interpretado por ideação antecipatória – que atua como gatilho para deflagrar uma série de reações em cadeia em todo o corpo.
O problema é quando essa ansiedade deixa de ser fisiológica e começa a se tornar patológica na vida de alguém, levando a prejuízos significativos em diversas esferas da vida. Taquicardia, sudorese excessiva, parestesia (sensação de formigamento), dispneia (falta de ar) e rigidez muscular são alguns sintomas da ansiedade.
Além disso, existem várias formas de ansiedade, o que significa que as suas manifestações devem ser individualizadas e contextualizadas no universo de cada um. Seja qual for o tipo de ansiedade, se não for devidamente abordada, poderá comprometer o funcionamento parcial ou total da pessoa – e isso certamente vai impactar sua vida laboral nos mais diversos sentidos.
Quando pensamos na advocacia,que é uma área que lida com clientes potencialmente angustiados/ansiosos, além de processos, burocracias, tempos de espera para decisões, o profissional pode acabar recebendo toda essa energia – e isso pode acumular com o tempo, sendo essencial para o advogado cuidar da sua saúde mental constantemente.
Adotar medidas comportamentais e hábitos positivos que busquem quebrar a rotina intensa e, por vezes, estressante da advocacia. Ter pausas no trabalho é eficaz, dedicando-se a exercícios de respiração e relaxamento (p. ex., meditação), alimentar-se com regularidade, ter uma boa higiene do sono (ambiente totalmente escuro, pouco ruidoso, longe de tablets ou smartphones, desligar a TV) e praticar atividades físicas são ótimas recomendações. E, claro, jamais deixar de buscar assistência do profissional de saúde mental (psicólogo e/ou psiquiatra), caso estiver com algum sofrimento significativo.
Inicialmente, devemos reforçar algumas medidas comportamentais, como as que citei anteriormente. A psicoterapia (terapia com psicólogo) é uma excelente abordagem, pois irá auxiliar a pessoa a entender os gatilhos de sua ansiedade, possíveis fatores estressores (e como eliminá-los/lidar melhor com eles) e a adotar técnicas para eventuais momentos de crise. Também é um ótimo tratamento para quadros depressivos, pois ajuda a pessoa a elaborar melhor suas questões, auxilia no fortalecimento do Ego e na reformulação de perspectivas. Por fim, temos o recurso dos psicofármacos, principalmente os antidepressivos. Ao contrário do que muitos pensam (p. ex., “todos remédios viciam”, “fazem mal”, “vão me dopar”, etc.) são um ótimo recurso para depressão e ansiedade. Mas que devem ser administrados sob indicação e supervisão psiquiátrica.
Na verdade, sempre afetaram, porém não tanto como nos dias atuais. Venho recebendo muitos advogados no consultório, o que mostra o impacto do trabalho na saúde mental dessa população. O fato é que as pessoas vivem aceleradas, “pressionadas” e com obrigações cada vez maiores (sejam pelas questões inerentes do dia a dia ou aquelas impostas por elas mesmas inconscientemente).
Além disso, a tolerância das pessoas parece estar cada vez menor – o que leva a conflitos interpessoais, profissionais, etc. E aqui entra a figura do advogado – que está a todo momento lidando com o ser humano (geralmente, em momentos de angústia, sofrimento ou conflito). Toda a rotina do advogado acaba sendo um ambiente propício/fator estressor para o desencadeamento de transtornos mentais. Seja estresse agudo, burnout, depressão, ansiedade, insônia, transtorno alimentar, etc.
São condições que não são “frescura” e merecem abordagem e tratamento especializado em saúde mental.
Se você se identifica com alguma situação mencionada, procure ajuda com profissionais especializados. Compartilhe este texto com advogados ou profissionais que deveriam conhecer essas informações.
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